sábado, 6 de junho de 2009

Sou aquela que nem sempre aparece nas consultas, que não persiste nos tratamentos e que receia um dia acabar enlouquecendo, rs... É, às vezes, é rir pra não chorar mesmo... Este é um desses momentos... é tão difícil verbalizar estas impressões depois que passaram, que já se esvaíram com a neblina da noite, após ter seu véu desmanchado pela cortina da luz do dia... Os pensamentos muitas vezes parecem duendes ensandecidos que não sabem bem o que estão fazendo e, por serem fictícios, não se tem bem como controlar. Esta falta de controle sobre o meu pensar é que me deixa apreensiva, nesta hora, o que sempre me vem em mente é o quão frágil é esse fio invisível que separa a vida da morte, a sanidade da loucura, a apatia da euforia. Acho que o maior problema é viver tudo com intensidade duplicada: a alegria, o prazer, a busca pelo novo, o interesse por coisas muitas vezes até contraditórias, o amor por tudo e todos... no entanto, também, a dor, o sofrimento, o vácuo, o vazio, a falta de sentido, a confusão, a falta de rumo, de prumo... a angústia... Minha sorte é não ter tendência a vícios, porque, senão, o exagero, em algumas situações, seria quase inevitável...
Acho que toda essa intensidade e essa angústia de não querer viver as coisas pela metade, acaba assustando quem convive comigo, tento me controlar. Durante o dia, é mais fácil disfarçar, expressar cansaço desculpa certas distrações, dispersões e o olhar perdido no horizonte do nada, mas à noite, no silêncio onírico dos outros, é que a coisa muda de figura: tenho medo de me deitar daqui a pouco e, logo em seguida, ser assaltada pelos pensamentos fúnebres quase inevitáveis; tenho medo de dormir e acordar sobressaltada, com o coração aos pulos e um certo pavor me cercando, me sufocando, cortando minha respiração; melhor seria nem dormir... ou poder fazê-lo durante o dia, quando não mais consigo manter as pálpebras erguidas e tenho que travar uma luta ferrenha com um estado quase entorpecido para não parecer desleixada, descompromissada...

2 comentários:

  1. Poxa Simone! Parece que tu é mesmo a tua pior inimiga né? Não dá para viver 100 %. Vai ser sempre pela metade, é melhor pensar nisso. Senão nem pela metade tu vai conseguir. Não dá para viver num tudo ou nada. Apareça nas consultas... Vai te cuidar moça! Beijo com carinho. Marcelo

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  2. TENGO MIEDO

    "Todo desaparece ante el miedo. El miedo, cesiona; ese bello sentimiento, sin aleaciòn, puro y desinteresado; uno de los pocos que saca su nobleza del vientre" Albert Camus (Calígula)

    Miradme: en mi habita el miedo.
    Tras estos ojos serenos, en este cuerpo que ama: el miedo.

    El miedo al amanecer porque inevitable el sol saldrá y he de verlo, cuando atardece porque puede no salir mañana.

    Vigilo los ruidos misteriosos de esta casa que se derumba, ya los fantasmas, las sombras me cercan y tengo miedo.

    Procuro dormir con la luz encendida y me hago como puedo a lanzas, corazas, ilusiones.

    Pero basta quizás sólo una mancha en el mantel para que de nuevo se adueñe de mi el espanto.
    Nada me calma ni sosiega:
    ni esta palabra inútil, ni esta pasión de amor, ni el espejo donde veo ya mi rostro muerto.
    Oidme bien, lo digo a gritos: tengo miedo.

    Maria Mercedes Carranza,
    Poeta Colombiana.

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